3 de set. de 2009

mimetismo

Não conheci você, mas me garantem que nada perdi.
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O mimetismo de seus cabelos seria passageiro e você própria, mera viajante de um trem de incertas estações, de trilhos sem nexo e com descorados outonos e soluços.
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O que mais se comenta mesmo é a inconstância de seu riso quando em contato com quaisquer borboletas. Há até os que garantem ter sentido ânsia de vômito quando encararam seus lábios trêmulos.
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Os traços alados desses insetos lhe descoloririam o contorno – daí sua aversão a eles.
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Contraditoriamente, por vezes sinto pena de nosso desencontro (ou tropeço, segundo sugestão de alguns), e fico a supor você no vazio em que me ocupas. Feito buraco no lugar de boca, qual tiro sem estampido. E teço, então, a imagem de um casulo oco, como sua presença – vaga larva que nunca assimilei, sorvi ou apanhei.

Um comentário:

  1. Anônimo4/9/09 07:31

    Muito Profundo!
    Cada palavra se encaixa no sentimento envolvido da frase. E cada frase dá vida para o desfechos dos parágrafos.

    Gostei muito!
    Parabéns professor Heitor, sabia que era inteligentíssimo, mas não imaginava que dominava as palavras com tanta maestria.

    Grande abraço!

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obrigado por suas gotas!