24 de set. de 2010

primitivo

      Seria um momento relaxado, e mesmo íntimo, em nossa juventude, possivelmente compartilhado com algumas doses, às quais ela já era chegada. E surgiu em meio à sua fala.
 tempos atrás, chegava a guardar meus modes usados. simplesmente não conseguia me desfazer deles. também, não raro, tinha prisão de ventre. minhas idas ao banheiro eram sempre acompanhadas de bulas de remédio. só conseguia fazer cocô se tivesse uma bula como leitura. letra miudinha, longo texto, informações inúmeras, a ponto de passar a conhecer nomes científicos, posologias, indicações, fórmulas, contra indicações etc. de um sem número de remédios.
      Acabei anotando aquilo, quem sabe para um dia empregar em algum escrito. Mas antes disso, anos depois, como que por acaso – na verdade, de fato por acaso –, numa roda de amigos nossos em que ela estava presente, lembrei disso e perguntei: “Não eras tu que, quando ias ao banheiro, levava bula de remédio pra se distrair?”. O comentário me saiu simplesmente pelo curioso daquilo recordado. Sem qualquer senso de oportunidade, decerto. Sem a menor pré-reflexão das implicações do hábito – nem do dela nem do meu. Apenas fruto de uma anotação... Pelo menos nada falei dos modes usados, escondidos mês a mês pelo guarda-roupa.
      Sou ainda mais primitivo do que talvez possa parecer à primeira vista.

7 de set. de 2010

seção por fim

num canto do palco, cortante, detalhe de cenário no aguardo da próxima encenação. sessão pontuada por lascas, sentimentos em contrastes e aguda perspectiva sanguínea. por fim, seção. que se cuide o contrarregra ...