29 de mai. de 2010

25 de mai. de 2010

testículos

.  escrever é uma febre constante que queima por dentro. o suadouro é pelo por pra fora; fazê-la baixar, justamente pelo papel.

. sem sequer conhecer as paredes brancas a cal do agreste Mediterrâneo. sentir seu calor em sal, têmpera em rochas, oliveiras.

. nos lençóis revoltos enrolo meus rolos. rolo o tempo incomodado pela certeza de que o despertador, indiferente, berrará eficiente às 6h40. na ausência de paredes no ainda negror de fim de noite, arregalo os olhos pro nada, sem parâmetros de espaço, a não ser o contato vertical com o colchão. remoo esbugalhado os anseios, essa total falta de sono e saída.

. a ideia da morte ligada à de formigas. ser inumerável e sua perenidade. em soma. falta de individualidade, na vulgaridade que lhe é própria. nos corredores, terras, lixos, porões, estruturas. mas, principalmente, pela minha pia.
      na inevitável identificação. no limite inarredável do termo de cada um. morte – no só, no dentro de si, no passar e as formigas ficarem. sempre houve. e restarão pra todo o depois.

. o passo com prioridade deve ser o de acalmar. envolver, tecer o todo. o conjunto, a unidade. o centro. selva de si.
      contudo, uma relação amorosa pode centrar em definitivo. arriscado demais pra quem é agitado. desmatado, coitado...

8 de mai. de 2010

doido


o menino acorda agoniado. pesadelo dos brabos. pelas ruas de Manaus, junto com seus irmãos ainda mais curumins que ele, depara-se com Carmem Doida. doida varrida, sempre munida de um saco de juta às costas, pronta para ameaçar meter nele crianças que a aperreassem, e carregá-las embora... no saco, até onde se sabe, uma lata com restos de comida para bichos que criava.
     pavor em forma de gente. ou de pesadelo. espectro magro, com cabelos lisos e grisalhos, de franja reta rente à testa, composto ainda por gibão surrado como vestimenta. mais que louca, enlouquecedora. concretização do terror. e, tudo que restava ao menino era arrodear aquele ser, que se interpunha no caminho em direção à sua casa, e passar com seus irmãos despercebidos da figura. mas eis que um deles faz a última das coisas pensáveis. grita Carmem Doida! pronto, o pesadelo fez-se realidade. medonho, sem saída, saco a buscar menino...
     menino acordado, vê-se sozinho. ó angústia infinda. seus irmãos já tomavam o café da manhã. suado, mas sem se dar conta sequer do arder das brotoejas, em ato contínuo desce ao térreo da casa, com os pés a cruzar o frio do granito pontilhado em preto e branco. mãe na cozinha, irmãos sentados à mesa. vai direto ao maldito, dono do grito: e desce sopapos no atônito coitado. a mãe consegue separar o atacante – ainda descontrolado, em respiração e no transpirar, dado o recente escape da doida da Carmem – do completamente desentendido irmão. ela exige justificativa do filho mais velho, com o que entende o ocorrido e tenta explicar-lhe o que vinha ser um sonho...
     não se sabe o quanto, ali, o menino acabou de fato compreendendo. o símbolo fora, naquele instante, de todo real. doído. muita água rolaria pelos igarapés da fantasia, até que ele chegasse a relacionar sonho e sintoma pelo seu aspecto metafórico, ou angústia a preço a pagar para se assumir a demanda do desejo... Carmem Doida sempre foi muito doido!