Foi numa noite úmida de dezembro que vi meu pai pela última vez. Após o jantar, ele saiu para colocar na garagem o carro que estava na rua. Abriu o portão, como de costume, entrou no automóvel e foi fazer o contorno. Só que não voltou. O portão e nós lá ficamos: escancarados..
Depois de dois ou três meses, passamos a receber cartões postados dos mais recônditos lugares do mundo. Uma longa ponte sob neve na Dinamarca, um templo em ouro numa selva indiana, um mercado de escravas brancas na Arábia, e por aí afora. Enquanto por aqui as coisas continuam quase que na mesma: a rua barulhenta, a casa apertada e as eternas crises de asma de minha mãe.
.
A cada novo cartão recebido, aquela ânsia dela para ver se há algo escrito. Mas, invariavelmente, além dos belos selos, apenas nosso endereço e uma íntima assinatura: Papi. Aí a asma ataca – mais braba do que nunca.
.
Papi deve estar se divertindo às pampas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
obrigado por suas gotas!