1 de ago. de 2009

meu amigo, o caçador

I. Um pequeno vestígio. Tanto faz o grau. Passado, flashs, lapsos, rastros. O escrever julga tecer e, compondo, apontar o ajuste de trilha. Pista: tocaia de pegadas num presente.

II. A busca daquilo que não se sabe ao certo querer. Madrugada rio acima, e agora a marcha. A trilha vaga, vegetação rala e orvalhada em manhã mal surgida. As botas já rotas aos poucos encharcando, o frio entrando também através dos pés. Da pequena mochila às costas, a garrafa com cachaça: esquenta o estômago, mas não contém o arrepio nos braços. A pouca luz vence a neblina e, na floresta que vai se adensando, compõe figuras fantásticas – seres dissimulados e outros nem tanto. A busca constitui, antes de tudo, o simples andar. A caça, o pretexto. Trilhar o sulco pelo chão; na terra batida, as marcas de outras tantas passagens. Procurar no rumo já testado: envolvimento com um verde esbranquiçado, quase tenebroso em função dos calafrios. Treme-se pelo desconhecido, pelas imagens que roçam nas curvas, pelo desvario dos pensamentos – trilhos.

III. Meu pai adorava caçar. Por prazer de matar? Ninguém nunca lhe perguntou, particularmente eu nunca pensei a respeito. Certo é que, após a menor permanência nas matas e rios da região, picado de insetos, mais magro e queimado pelo mormaço, meu pai era das pessoas mais doces e tranquilas que já se viu. Os filhos pelo colo brincavam envolvidos na fumaceira de seus charutos e protegidos pela paz que só dele podia irradiar. Ausência pura de riscos: garantia de jamais vir a nos faltar. Contudo, quanto vazio sua lembrança causa hoje! Pela morte dos bichos trazidos, pelo contato com as matas ou pela solidão das trilhas por que se metia, o fato é que, à volta de cada caçada ou pescaria, passava algumas semanas como que encantado. Poderíamos nós ter qualquer preocupação com aquilo que destruíra ou matara? Claro que não.

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