a primeira visão foi no escuro dum cinema. pelo recorte de silhueta algumas fileiras adiante, tela em luz ao fundo. o cabelo em corte prático e de irrequieto parar, por tão liso. feito fotogramas: flashes um a um. depois, posta de pé, surge o corpo delgado e de frágil aparência. para logo se fazer voz: pausada, de timbre algo metálico, emoldurada num constante quase sorriso, entre tímido e moleque. em seu autocontrole e clareza, logo põe em dúvida a aventada fragilidade. estava mais para uma autonomia de inesperadas características. mas quais?
restou a direta pergunta: quem és tu? quem és tu a me mobilizar em meio à penumbra fílmica, estilhaçando roteiros já assistidos?
e deu-se a resposta, “num fluxo de pensamentos”:
Estou sendo, uma vez que resultado da minha vontade, dos perceptos e das forças que me atravessam sem paragem numa velocidade infinita. Acerca disso, atribuo sentidos e significados que cambaleiam na tentativa de se tornarem fixos. Mas isso é praticamente inviável, ao passo que a vida em movimento transforma e arrebata todos os conceitos. Vicissitudes, enleios e desejos – é isso que sou. Um emaranhado de pensamentos em busca de nomes para os objetos do conhecimento. É neste conflito que me faço, me recrio e desloco. Sinto-me ansiosa, embora anseie poucas coisas. Sonho em conhecer mundo além dos livros. Quero ainda cantar libertamente com a minha voz rouca. Gosto de compartilhar as coisas na minha hora, dormir bastante e sem demora. Para mim a vida parece simples na sua complexidade – pena a nossa consciência ser uma tragédia e uma angústia que alerta a inquietude diante da nossa finitude [...]. O sol me incomoda na sua intensidade. E o excessivo barulho me causa dores de cabeça. Tento ser responsável e acho possível reconstruir algo que valha a pena. Nesse sentido, procuro não deixar escorrer por entre meus dedos as possibilidades criativas e novas formas vida. Acho que o humano possui uma potência e, sendo ele atento e sensível àquilo que o circunda, é capaz de efetivar suas perspectivas em ato, em um estado que pulsa para algo pleno. Acho que é isso que estou sendo – mas não para, não cessa, até...
e ela ainda canta, filosofa, gosta de outras meninas e, sim, é uma graça.
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