31 de jan. de 2010

sonhar contigo


 presença não solicitada, tipo de convite jamais manifesto. despontas feito invasão a domicílio. pr’além da possibilidade do simbólico, simplesmente te presentificas! efetivamente pele, trejeitos, odores, cor de cabelo, conversações e trocas de olhares de intimidade sem igual. num assombro de sensações, dique rompido.
     na falta de qualquer cerimônia tua, minhas noites se veem apoderadas. arrasas aquilo a ser descanso e, em teu maneirismo doce, ainda que travado, trafegas indiferente ao que possa ser controle. desde a remota cena de um jantar a velas regado a vinho chileno, tu te impões com irrecusável realidade. revolves mesas e camas postas em vagas analogias. a ponto de afetos se arriscarem a emergir para, despertos, se verem escancaradamente prostrados.
     pelos ambientes familiares mais diversos, atuas. cruzas do sofá ao jardim, do quarto de casal à sala de jantar, te fazendo conduzir por gestual só a nós dois afeito. como que largando passo a passo teu feromônio pelos cômodos; a mim, de desejo sonâmbulo, resta apenas segui-lo, enquanto meu corpo se contorce nos lençóis. enredado nessas sensações oriundas de tua existência ali, sonho – impotente a símbolos e livres associações. pois tudo é reduzido à concretude de tato, fala, olhar em cândido observar, numa vertigem de suavidade da qual há tanto não mais se quer imaginar – porque movediça, intratável, passada. ainda assim, tal realismo desse modo trazido faz imperar tudo o desenterrado por ti, de cadáveres insepultos àqueles que já se põem a levantar.
     odeio sonhar contigo!

Um comentário:

obrigado por suas gotas!