13 de jan. de 2016

linhagem no tempo

instigado por mim, meu pai rememora sua infância. há prazer, interesse, curiosidade de quem fala e de quem ouve. mas algo de lapso fica no ar. certa necessidade minha, como de atenuar não ter participado daquela vida.
pelo menos localizo algo assim na minha escuta. feito eu pai do filho que narra uma existência – incontáveis causos, dramas, superações, insignificâncias – que eu não pude dividir com o então garoto. apartado de tais momentos, os recupero de um outro lugar, na carne de um ser ouvinte, em paradoxal avidez de recordar feitos não vividos por mim. indiferente a isso, ele reparte comigo parte do vivido. resgata, filtra, recria, diz lembrar. meu quinhão para registro. 
pai dele tenha sido, estaríamos juntos já nesta foto, com o patriarca Octaviano ao centro. eu teria sido aquele que cedo, cedo demais, se foi. e só agora, possibilitado pelo que ele vocaliza, passasse a ter ideia do que não me foi dado compartilhar.
herança generosa – numa família de homens que não falam de suas angústias e se veem ingeridos por elas. patrimônio ofertado por relato do pai outrora filho, meu filho? avô, eu, inscrito em réplicas de nome e datas?


Emília, mãe de Helio Braga da Silveira (15/mar./1929), então com dois anos, e Manzeca; 
Octaviano; e Heitor Amilcar da Silveira (17/nov./1889–17/nov./1933).
Heitor Amílcar da Silveira Neto (17/nov./1956)

Um comentário:

obrigado por suas gotas!