16 de out. de 2011

nado no invisível


foi há muito tempo, quando ainda na casa dos meus pais. da janela do quarto de dormir, via-se o tronco inclinado de uma árvore, que de fato nunca houve ali. levemente molhado, o musgo que o recobria era de um verde escuro vivo. numa das paredes internas, desde o teto de ponta a ponta escorria água, em uma fina mas constante camada. percebi então, nadando por ali, pequenos peixes, desses de aquário, coloridos e graciosos e com diferentes formatos. flutuavam em seus movimentos como se submersos. gestos de absoluta serenidade ondulante, a indicar a naturalidade – desde sempre – de tudo aquilo. as cores fortes e a beleza do deslocar-se deles me magnetizavam. aproximo amistosamente o indicador direito de um peixinho, um vermelho de longas e delgadas barbatanas. queria senti-lo (crê-lo?). pouco antes do toque, o salto agressivo, o bote inesperado ao meu dedo. deu para retirá-lo a tempo, recuar assustado diante de desproporcional ameaça. e, aí, já num misto de atração e medo, contemplar o ser de nado em suspensão e de profundo descaso ao ocorrido. apenas cortava o invisível em indisfarçável superioridade por sua magia. etéreo, entre a parede a verter água e o meu olhar. lá fora, o tronco em umidade de intensos tons.

2 comentários:

obrigado por suas gotas!