o barrento São Francisco, porto de Januária. barco atracado.
desde o cais, o pulo da linda jovem, inesperada companheira de viagem. ela já havia se lançado antes – para o pasmo de tantos – do alto da enorme ponte Presidente Dutra, entre Juazeiro e Petrolina. agora o fazia não tanto pelo salto em si, de reles 3 metros, mas para refrescar-se da quentura nordestina em janeiro.
se da vez anterior de minha parte não houve a mais remota cogitação de bravata em emitá-la, ali me vi – sabe-se lá por qual razão – no impulso de também me precipitar atrás dela. e, ainda por cima, me jogar logo de cabeça! considerando-se minha paúra de altura, a elevada temperatura não era incentivo suficiente para me atirar lá de cima. mesmo porque em algum outro ponto do porto haveria acesso direto ao nível da água. pergunto-me hoje se o gesto repentino de segui-la traria a intenção de romper com antigas aversões a lugares elevados, como trampolim e galhos de árvores altas.
no átimo entre os pés perderem contato com o cais e me perceber de braços estendidos sobre a cabeça – feito agulha a mirar o rio a ser perfurado –, uma visão: na linha d’água, uma janela a ser estraçalhada por minha passagem por ela. a cena congelada – o horror paralisante em pleno salto a fixar em suspensão a pergunta “o que estou fazendo aqui?!”
e que diabos significaria aquela janela no meu caminho? nem a água fria em contraste com o enorme calor do corpo, muito menos a necessidade de lutar contra a correnteza para voltar à margem, tampouco o fato de ali, afinal, meu movimento de saltar ter tido êxito – nada disso arrefeceu, mesmo ao longo dos muitos anos posteriores, a medonha sensação dos intermináveis décimos de segundo daquela projeção no ar ante um impacto com a tal janela!
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