9 de mar. de 2011

assoado de ti

Quando como que assoado de ti, pus-me a errar. Vago, sem qualquer consistência que pusesse sentido àquela dispensa: plena e efetiva em seu completo descaso. Descarte a toda prova.
.....Ser expelido, perambulando ao sabor de vagas insones, Odisseu sem sua Ítaca, expulso de qualquer possibilidade de norte.
.....Isso acabou por debruçar-me sobre incontáveis gestos de desesperos. Os mais profundos – e dolorosos – estavam entre os mais silenciosos.
.....Mas, açodado, fiz-me deserto. Nunca mais escrever. Não mais vir a público. Jamais.

Meses de suportabilidade. Resistência à insistência. Conflito interno, refluxo calado, a emergir, a deglutir, a forçar sua torrente. A testar a tolerância à ausência do menor tino.
.....Contudo, dá-se o escape. Permissão para um só poema. Um só registro. E só.
.....Num jorro, a síntese em tão enxutos, condensados, suados versos. Porteira aberta...
.....E a cada incontinente escrito, de fato por fim concebido, ao menos uma limitação se fazia imposta: o anterior de imediato destruído. Quase um ritual, com a porta do escritório devidamente serrada. Na penumbra, a folha desbancada era dobrada em três e, sanfonada e equilibrada sobre o cinzeiro, posta a queimar. De cima para baixo. Reduzida a cinzas, essas iam logo privada adentro... Purificado eu.
.....Se efetivamente incontido, o desejo ia ao papel, como que regurgitado, a depurar-se, em inumeráveis digressões, digestões em luta por se fazer presentificado. Se finalmente me fizesse derrotar – sobrevivido, purgado, inarredável e não mais equacionável –, impunha-se ao lugar do outro. Dobrado, queimado, evacuado. Desancado.
.....Mas sempre um único e apenas ímpar registro. Um último. Mais que o mais recente, o final. Derradeiro. Esperança de resistência. De vir o esgotamento, a finitude, o fundo. Um basta.

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